Sentei na última mesa, e fiquei esperando alguém vir para
anotar meu pedido.
– Só café.
Era uma manhã de sábado e o local estava bastante cheio de
pessoas vazias. Todas elas falavam sobre o trabalho, sobre a roupa de alguém,
política, trânsito ou clima. Raramente
elas falavam olhando nos olhos de quem a escutava, só falavam e olham para o celular,
o notebook ou para a televisão que se localizava no alto do balcão.
Adentrou naquele estabelecimento um senhor, deveria ter seus
60 anos, talvez menos ou talvez mais. Usava uma calça com alguns rasgos e uma
blusa bastante suja, não calçava sapatos, apenas uma sandália de dedo. Aquela
sandália não lhe cabia, deixava parte de seus pés tocarem o chão, e talvez
fosse por isso que os pés dele estavam tão sujos. Não só eu o observei entrar,
mas todos o observavam, porém só eu o via com tamanha admiração.
Ele procurou um local, uma mesa para se sentar, e foi
informado com muita displicência por um garçom que ali não era seu lugar.
Indignei-me, confesso. Gritei para ele.
– Ei, você demorou a chegar, né?!
Vem para cá, sente-se aqui. Garçom, por favor, traga o meu café, e para este
senhor, traga um bom cappuccino e o que mais ele desejar, e seja rápido porque
creio que ele está com fome.
Aquele senhor olhou para mim surpreso, sentou-se um tanto
envergonhado ao meu lado, e disse baixinho.
– Você está me confundindo com
alguém.
- Não, eu não estou. Eu precisava
de alguma companhia, alguém para abarcar esta solidão. E o senhor, precisava de
uma mesa. Acho que não lhe confundi.
Ele riu. – Mas eu não
tenho dinheiro para pagar um cappuccino, talvez só uma pequena xícara de café.
- Quem disse que você irá pagar?
Eu que te convidei, peça o que desejar. Eu pago.
O garçom se aproximou da minha mesa e com muito sacrifício
sorriu, entregou-me o café. Ao senhor, deu-lhe o cappuccino, alguns croissants
e um pedaço de torta.
Ele comia com bastante voracidade, e sempre que me olhava
sorria.
Todos que antes ali só olhavam para seus aparelhos eletrônicos.
Lançavam vários olhares surpresos para mim e para aquele senhor. Eu lhes
retribuía o olhar, e ainda lhes dava um “Bom dia”. Eles, porém, nada me diziam. Voltavam para
seus mundinhos. Talvez um deles, tenha colocado um “Bom dia” em suas redes
sociais. E somente isto bastava.
O senhor já havia terminado de se alimentar, olhou para mim
e perguntou:
– Por que você diz “Bom dia” para eles? Eles
só estão nos olhando porque eu não mereço estar aqui, porque eu deveria era
estar em um bar sujo me alimentando.
- Me desculpe, mas o senhor realmente
deveria estar aqui, eles não. Eles deveriam tomar café virtualmente ou então
embaixo de seus edredons. Eles não gostam da presença do ser humano, e eu não
entendo porque ainda saem de suas casas para um local como este.
O senhor concordou com a cabeça. Chamei o garçom e lhe
entreguei o valor da conta.
Levantamos-nos, e caminhamos até a porta. Antes de sair, um
homem entrou no local, sorriu , segurou a porta para eu passar, e me disse um
“Bom dia”.
– Bom dia!